Nos tempos atuais, a Lei da Evolução das Espécies, apresentada em 1859 por Charles Darwin, parece ganhar novo significado. Afinal, o surgimento das novas tecnologias de comunicação e informação e o desenvolvimento da Internet resgata o nosso desafio de adaptação em um mundo cada vez mais instável, imprevisível e líquido no dia a dia e nas relações.
Parte desse desafio é expressa nas novas competências valorizadas pelas empresas e organizações na hora de contratar colaboradores. 35% das habilidades de trabalho exigidas para as ocupações atuais devem mudar, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. É nessa mudança de perfil que se destacam as soft skills, que você provavelmente já deve ter ouvido falar.
Assim como muitos conceitos que surgiram recentemente, é difícil entender precisamente o que elas significam, mesmo para quem já leu uma dezena de artigos sobre o assunto. É porque a essência das habilidades soft skills é relativa e subjetiva. Em geral, as soft skills são adquiridas por meio das relações que o profissional estabelece com os colegas e consigo mesmo. Além disso, há uma reflexão sobre o comportamento adotado e a tomada de decisão para mudança de hábitos.
Apesar de hoje já existirem cursos para ensiná-las, a prática é a melhor maneira de saber como desenvolver soft skills. Para isso também é importante entender como hard skills e soft skills se diferenciam: as hard skills são concretas e podem ser incluídas no seu currículo, além de poderem ser aprendidas com uma série de oficinas. Hard skills correspondem, por exemplo, ao domínio do uso de uma ferramenta como o software editor de imagens Adobe Photoshop, ou à conquista da fluência em um idioma como o inglês.
Como as soft skills são complexas e ao mesmo tempo cada profissional desenvolve sua personalidade de modo singular, elas se tornaram extremamente valiosas para a permanência e o crescimento do colaborador dentro da empresa. Uma frase que resume isso é “empresas contratam pelo currículo e demitem pelo comportamento”. Se essas habilidades são diferenciais para os colaboradores, no caso dos cargos de gestor elas são pré-requisitos.
Confira a seguir uma relação das habilidades soft skills mais valorizadas em 2021!
Comunicação assertiva
A comunicação é um dos pilares da humanidade e de qualquer espécie: sempre foi por meio da troca de informações que conseguimos nos organizar para garantir nossas necessidades básicas e sobreviver. Por isso parece redundante afirmar que na Era da Informação ela é uma habilidade importante. Mas fato é que no século XXI ela ganhou um significado mais complexo, e não à toa é uma das soft skills mais valorizadas.
A comunicação assertiva é aquela em que a mensagem é interpretada como se deseja pelos interlocutores. Isso significa escutar com atenção, saber se portar em diferentes situações, interpretar as mensagens e ter a capacidade e a facilidade de trabalhar em equipe. Portanto, exercitar escuta, interpretação, conversa e abordagem, além das diferentes linguagens (oral, verbal, corporal e visual) é um passo importante para quem deseja aprimorar a comunicação.
Criatividade ativa
Ser criativo não é apenas ter muitas ideias, apesar disso ser também importante. A criatividade está por trás de atitudes que fizeram a diferença no mundo: desde a formulação de teorias e a invenção de produtos até a produção de conteúdos engajadores e o encontro das soluções diferenciadas. Por essas e outras é inegável que entre todas as soft skills, é a que oferece o maior diferencial para um profissional.
Já a criatividade ativa é aquela que não depende de um estímulo externo, mas se tornou um hábito quase natural que se expressa recorrentemente. Ou seja, é quando o colaborador encontra novos caminhos até mesmo para tarefas diárias. Como uma nova ferramenta ou processo, por exemplo, que reduz o tempo ou os recursos necessários para uma entrega. Praticar os brainstorms (ou tempestades de ideias) e ampliar suas referências culturais por meio de livros, filmes e séries é uma forma de desenvolver esse hábito.
Resiliência contínua
Não há lugar para a sabedoria onde não há resiliência. A resiliência é a capacidade de se adaptar e crescer após situações de crise. Não por acaso que ela é uma das soft skills mais valorizadas. Problemas aparecem frequentemente e parte do desafio envolve saber resistir às pressões, tomar decisões e agir em meio a turbulências. Essa trajetória pode ser dura, mas traz muitos aprendizados.
A força e a maturidade psicológica geralmente andam junto com a resiliência, e por isso essa soft skill é associada à inteligência emocional. Ela é desenvolvida com a experiência de viver situações complicadas, mas mesmo pessoas mais jovens podem trabalhá-la. Focar em atitudes assertivas, aprender com as situações e ter bases de apoio são alguns passos nessa direção.
Empatia inclusiva
Empatia é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa com os sapatos dela. Ou seja, de forma que se consiga compreendê-la no seu contexto e com seu background. Para quem lidera equipes a empatia é ainda mais importante, pois é uma base para construir relações de confiança com os colaboradores. E a confiança mútua, por sua vez, é a chave para uma gestão aberta e humana.
Uma série de fatores contribuem com o desenvolvimento da empatia. O autoconhecimento, por incrível que pareça, é um deles. Se conhecer mais profundamente é um passo fundamental para conhecer os outros, afinal sentimentos são comuns a nós seres humanos. Ouvir atentamente a uma pessoa durante uma conversa e demonstrar interesse pelo que ela diz são outras maneiras objetivas de trabalhar a empatia como uma das suas soft skills.
Liderança efetiva
Todas as soft skills são interdependentes, isto é, tem uma relação de auxílio mútuo ou coadjuvação recíproca. A liderança efetiva é uma prova disso. Ela combina todas as anteriores, envolve visão sistêmica e autonomia. Isso significa mais uma postura diante do trabalho que a ocupação de um cargo de chefia.
Mas não basta desenvolver esse mix entre soft skills e ter a compreensão do todo. É preciso que tudo isso se transmita nas ações cotidianas. Muitos ensinamentos sobre essa soft skill corroboram a percepção de que um líder se reconhece pelo exemplo que dá por meio das suas atitudes. Portanto, liderança não é sobre mandar ou fazer belos discursos.
Conduta ética
Já há alguns anos é perceptível uma crise de coerência generalizada nas empresas, nos governos e nas organizações. Com a maior divulgação dos escândalos de corrupção em todos os setores, a confiança entre as pessoas também diminui. Por isso o alinhamento entre o discurso e a prática se tornou um diferencial valiosíssimo não só para as instituições, como também para os profissionais.
As chamadas empresas com causa estão sabendo ocupar este espaço vazio dando atenção a toda sua rede produtiva. Isto é, garantindo que todos os colaboradores trabalhem em condições justas e buscando reduzir o impacto ambiental, por exemplo. Por isso, não é estranho que elas estejam buscando compor suas equipes com profissionais que estejam alinhados aos seus valores éticos.
Além de serem consideradas nos processos de contratação de novos colaboradores para a empresa, as soft skills dos profissionais atuais podem ser trabalhadas por meio de algumas políticas e práticas. São elas o desenvolvimento do autoconhecimento do colaborador, a análise de desempenho (ou feedback de terceiros), os programas de treinamento e a gamificação da trajetória de cada um na empresa.