Como uma revolução tecnológica, a Internet transformou radicalmente a maneira como nos comunicamos e nos informamos. A partir da inauguração das estruturas em rede, ela possibilitou democratizar o que antes era apenas restrito a poucos grupos de pessoas. Assim, a rede mundial de computadores foi se expandindo graças ao investimento na sua infraestrutura técnica.
A sociedade em rede passou assim a ser estudada por muitos pensadores contemporâneos, como Manuel Castells. Com ela, ficou cada vez mais evidente como corpo humano, natureza e sociedade se relacionam de modo interdependente, assim como suas células e núcleos. As mídias sociais, por sua vez, contribuem para que toda a dinâmica social se torne visível, apesar de não serem um espelho exato dela. Mas toda nova era também traz novos desafios.
Em tempos de distanciamento, isolamento e quarentena, muitas incertezas se apresentam e uma das principais delas é sobre como liderar em rede. Afinal, se a liderança é exercida com base em relações de confiança, uma dúvida surge: como cultivá-la sem estar fisicamente presente? Em equipes mais diversas, os obstáculos parecem ser ainda maiores para conquistar a harmonia necessária.
A liderança em home office
Mas como a sabedoria popular já dizia: se a vida te der limões, faça uma limonada. Em outras palavras, liderar em rede é também transformar uma ameaça em oportunidade. Ou ainda se preferir uma frase de um dos pais da administração moderna, Peter Drucker, “lide com a realidade como ela é e não como você gostaria que ela fosse”.
Sim, é possível explorar os benefícios do home office tanto para a empresa, quanto para os colaboradores. Uma boa liderança em trabalho remoto faz a diferença para incentivar um maior rendimento por parte dos colaboradores, o aumento da qualidade das entregas e a melhora do clima entre as equipes. Isso gera consequentemente mais produtividade e retorno financeiro como um todo.
O tempo que era despendido em metrô ou ônibus pelos colaboradores, por exemplo, pode ser utilizado como um programa de capacitação customizada. Nesse novo contexto, o registro de ponto e o controle das horas de trabalho de cada colaborador não faz mais sentido. Afinal a liderança em home office prioriza a entrega e entende como otimizar o trabalho a partir do estilo de cada um.
Modelos de liderança que servem como referência
Nos anos 1970, o historiador e cientista político James MacGregor Burns distinguia a liderança transformacional do modelo vigente até então. Postura inspiradora, motivação contínua, estímulo intelectual e preocupação customizada já eram características de uma liderança inovadora naquela época. É importante salientar que todas essas qualidades não dependem de uma presença física, e que portanto são perfeitamente executáveis nos dias de hoje.
Assim como a liderança situacional, cujo conceito é oriundo da mesma década e o significado tem tudo a ver com o mundo atual. Pois esse modelo de gestão valoriza a adaptação da liderança ao contexto da equipe e dos colaboradores. Apoio, direcionamento, orientação e delegação são etapas que variam de acordo com a situação. Se falamos tanto em instabilidade hoje, quem busca liderar em rede também deve conhecer essa referência.
Os desafios de liderar em rede
Um estudo conduzido por professores de Harvard e da Universidade de Nova York mostrou o que toda liderança em trabalho remoto já deve ter percebido: um aumento de 12,9% no número médio de reuniões diárias e uma redução de 20,1% na sua duração média. De fato, a maior frequência de encontros virtuais é uma realidade que busca compensar a impossibilidade da presença física e otimizar o tempo.
Entre as maiores dificuldades do trabalho remoto para os colaboradores está a concentração nas tarefas necessárias para cada uma das entregas. Não à toa a famosa procrastinação é muito comum: são diversos os estímulos que o mundo digital apresenta. Por isso, definir o propósito com clareza e em conjunto com o time é uma das primeiras atitudes que a liderança em home office toma. Evite decisões autocráticas, pois elas prejudicam a confiança.
Além disso, mantenha uma comunicação regular com as equipes, não só pelas reuniões como também por email e/ou aplicativos de troca de mensagens. Esse é um meio importante de estar presente no dia a dia dos colaboradores mesmo à distância. Isso não significa desrespeitar o horário de trabalho, portanto evite lives supérfluas e improdutivas e faça acordos sobre quando, como e onde a comunicação vai acontecer.
A visão sistêmica é outra qualidade essencial para liderar em rede. Afinal, um olhar para o todo é o primeiro passo para integrar a equipe e assim melhorar o clima, aumentar a produtividade, reter colaboradores e desenvolver as competências interpessoais. Uma das formas de trabalhá-la é alinhar a cultura organizacional, criar um ambiente saudável de trabalho, desenvolver uma política de comunicação interna e realizar treinamentos com a equipe.
Não acredite na receita de bolo quando se trata de liderar em rede. Pelo contrário, em tempos de home office a mistura que gera os melhores resultados não é uma equação exata. Além das variáveis que influenciam nesse processo, a maioria dos gestores estão tendo que lidar com um contexto totalmente novo.
Por isso, aprenda com as lideranças que tem transformado as ameaças em oportunidades e conseguido superar as expectativas nos dias de hoje. Leia sobre esses casos, reflita sobre o seu próprio dia a dia e experimente readequar algumas dessas práticas fazendo do seu jeito. Entender como lidar com a sua realidade é mais eficaz que só repetir um passo a passo.