O que Leonardo da Vinci, Marie Curie, Albert Einstein, Frida Kahlo e Isaac Newton têm em comum? Longe de um DNA especial ou um cérebro avantajado, essas pessoas marcaram época por sua criatividade. Isso não só por encontrarem uma expressão ou solução diferente, mas sobretudo por gerarem valor a muitas pessoas com suas invenções e obras.
Portanto, o nível da criatividade não se limita a quão mirabolante é uma ideia, mas a quão inovadora e apropriada esta solução é para a realidade. Das gambiarras dos moradores de favelas às tecnologias sofisticadas, são muitos os exemplos que demonstram que o pensamento criativo não é um dom, mas uma habilidade que pode ser desenvolvida.
Além disso, o processo criativo acontece tanto no âmbito individual quanto no coletivo. No primeiro, o profissional é o protagonista. No segundo, toda a equipe. Ao reunir saberes, percepção e imaginação dos colaboradores, a criatividade coletiva contribui com a criação ou otimização de processos, produtos ou serviços.
No entanto, essa habilidade nunca é desenvolvida em separado, mesmo no âmbito individual: ela é influenciada pelo relacionamento interpessoal entre colaboradores e também por outras soft skills. A comunicação assertiva, tema de outro artigo da Global Talent HQ, é uma das habilidades comportamentais que atua a favor do desenvolvimento da criatividade ativa.
Quando a criatividade acontece
A criatividade pode nascer de cinco momentos diferentes: associação de ideias, questionamento da realidade, observação atenciosa, networking e livre experimentação. A conexão entre informações aparentemente isoladas é uma definição simples do conhecimento e uma das principais origens da criatividade. A famosa pergunta “como não tinha pensado nisso antes” geralmente é provocada por soluções criadas a partir da associação.
Quem diria que as uma das qualidades comportamentais mais valiosas no século XXI poderia também surgir daquele “por que” tão usado na infância? Pois é, a postura questionadora, tão frequente quando você era criança, hoje pode ser extremamente útil para se diferenciar como profissional e gerar valor no trabalho. O segredo é garantir equilíbrio e não deixar o questionamento virar birra.
Se você se pergunta como desenvolver soft skills e espera receber uma resposta pronta ou um manual simples, provavelmente irá se frustrar. Assim como as demais competências soft, a criatividade ativa não é efeito de um “eureka” ou um clique dentro na mente. Por incrível que pareça, a observação e o silêncio podem ser as melhores fontes para trabalhar a habilidade. Comece atentando-se aos detalhes do seu contexto em um nível mais profundo.
A interação constante com pessoas também gera novas ideias. De fato, o networking é um fator estimulador do pensamento criativo, pois coloca ideias em choque o tempo inteiro. Mas esse hábito não deve se restringir a pessoas do mesmo perfil demográfico e/ou comportamental para enriquecer os efeitos da troca e abrir oportunidades. Quanto maior a diversidade entre os interlocutores, maior a probabilidade de inovação.
Apesar de ser um dos fatores mais relevantes para o desenvolvimento da criatividade, a liberdade de experimentar talvez seja o mais raro na maioria das empresas. Afinal parece ousado demais e desperdício de tempo deixar que os colaboradores saiam da zona de conforto e testem na prática as suas ideias para um modelo rígido de gestão. Mas é justamente por propiciar a customização no modo de trabalho que esse hábito favorece muito a criatividade ativa.
A responsabilidade das empresas e lideranças
Os ambientes de trabalho podem estimular ou inibir a criatividade ativa, mesmo informalmente. A competição exagerada entre colaboradores ou a implementação de modelos de governança centralizados demais, por exemplo, são fatores inibidores da habilidade. Por isso, antes de planejar cursos e programas de treinamento de soft skills, é fundamental que a liderança busque um olhar amplo e profundo sobre a cultura empresarial.
Estudar que hábitos e valores são valorizados formal e informalmente nas equipes é uma forma de entender a cultura da empresa. A esfera formal é mais fácil de conhecer: está nos códigos de ética e documentos oficiais da organização. Já a informal é mais difícil e subjetiva,mas mais impactante no comportamento. Pois ela corresponde aos respaldos e resistências manifestados pelas pessoas todos os dias.
Para entender se a criatividade ativa é incentivada ou dificultada pela cultura empresarial, vale acompanhar os comportamentos dentro das equipes no dia a dia de trabalho, conferir os sistemas de recompensas e fazer conversas individuais com os colaboradores. Se nos momentos de geração de ideias o time acolhe todas as sugestões propostas, é um sinal positivo.
Os principais benefícios
Assim como todas as soft skills, desenvolver a criatividade ativa traz benefícios não só para o profissional, como para toda empresa. O primeiro e mais óbvio é aumentar a probabilidade de encontrar soluções fora da caixa para problemas comuns.
Em geral, colaboradores com essa habilidade tem um repertório cultural amplo, e por isso expõem ideias com maior clareza e escolhem as melhores palavras e expressões para cada contexto. E ao favorecer a melhora da comunicação, a criatividade promove conexões sociais mais qualificadas e assim abre oportunidades de negócio.
Como ativadora da intuição, essa é uma das habilidades comportamentais que compõem um círculo virtuoso próprio. O pensamento criativo gera comportamentos inovadores, que por sua vez inspiram os demais colaboradores e assim fervem as novas ideias.
É assim que a criatividade ativa propicia um ambiente de trabalho instigante e prazeroso a todos colaboradores, evidencia o diferencial da empresa e assim provoca um efeito de imã: atrai novos talentos e fideliza o público consumidor. O aumento da produtividade e o desenvolvimento da qualidade das entregas são consequências desse processo e podem ser observadas a cada fim de mês, com maior lucratividade.
Tudo isso contribui com o aumento da competitividade da empresa. A criatividade ativa é ingrediente chave na criação ou inovação em produtos e serviços, mas também na quebra de paradigmas. Apesar da última ser mais rara, sempre contou com essa habilidade. É o caso de Reed Hastings, fundador do Netflix, que revolucionou o seu nicho de mercado com simplicidade, conveniência e acessibilidade.
Como desenvolver a criatividade ativa
O primeiro passo para desenvolver a criatividade ativa é ampliar o repertório cultural. Para isso, estude os temas relacionados à sua profissão por meio de leituras, palestras, cursos e oficinas, mas também escute músicas e assista a filmes e séries de diferentes gêneros e culturas. Faça resumos sobre eles para fixar o que foi aprendido na memória. Vale também identificar pessoas inovadoras no seu mercado e acompanhar o trabalho delas.
Como qualquer mudança de cultura, desenvolver um pensamento criativo exige mudar alguns hábitos e criar novos estímulos para o cérebro. Não precisa fazer algo extraordinário, como planejar uma super viagem ou mudar de carreira. Você pode fugir da rotina nas pequenas atividades do dia a dia. Aprender uma nova receita e cozinhá-la ou mudar o cômodo em que você trabalha são algumas sugestões.
Garanta momentos de tranquilidade para a sua mente e faça interrupções ao longo do dia. O estilo de vida dos moradores das médias e grandes cidades compõe um grande volume de informações que é prejudicial ao cérebro humano. Por isso, procure manter a mente vazia com silêncio e meditação e momentos suficientes de descanso. Isso repõe as energias e torna o raciocínio mais rápido.
De fato, grandes ideias costumam aparecer em momentos de descanso e diversão, como em um passeio no parque, uma videochamada com amigos ou um mergulho na água. Por isso, separe um tempo para relaxar e se divertir sempre que possível. Vale também fazer pequenas pausas de 15 a 30 minutos no seu dia a dia de trabalho.
Estimule-se a inovar nas tarefas diárias, por exemplo trocando a ferramenta usada, implementando um novo processo e fazendo anotações sobre essa experiência. Antes das atividades criativas, faça “brainstorms” (tempestades de ideias) para abrir um leque de possibilidades. Se for possível teste as ideias, pois a prática é a melhor forma de aprender.
Apesar do estereótipo do profissional criativo ser visto como alguém confuso e perdido nas ideias, a organização contribui e muito com o desenvolvimento da criatividade. Algumas boas práticas ajudam, como cuidar do seu ambiente de trabalho e segmentar as pastas e gavetas na hora de guardar documentos.
Questione e busque solucionar questões não resolvidas, pergunte quando tiver dúvidas, busque informações a respeito de um problema, ou seja, não se conforme com informações “pela metade”.
Metodologias
Para gerar ideias, a sugestão é a Scamper, que resume nas letras os verbos das suas etapas: substituir, combinar, adaptar, modificar, propor, eliminar e reorganizar. Existem diferentes frameworks que facilitam a implementação da metodologia.
Também no grupo das metodologias de brainstorms, a simulação de cenários explora os extremos para incentivar o pensamento criativo. Cenários ideal e de catástrofe estimulam a imaginação do melhor e do pior contexto para resolver determinado problema. Ela é muito barata, uma vez que só depende da capacidade imaginativa e do registro das ideias geradas.
É possível visualizar como funciona a geração de ideias no cérebro por meio dos mapas mentais. A partir de uma ideia, surgem uma série de outras que estão interconectadas, e assim por diante. A metodologia chamada de Mind Map em inglês é ótima para organizar, ordenar e relacioná-las.
Na metodologia Brainwriting, os colaboradores, em círculo, devem registrar 3 ideias nos primeiros espaços de um papel com divisões. Depois, trocam as folhas com quem estiver à direita e registram mais 3 ideias novas ou relacionadas com as anteriores, e assim por diante até a folha ser preenchida. Por fim, as ideias são analisadas e debatidas em grupo.
Criada por J. Donald Phillips, a Buzzsession busca resolver problemas complexos ou mal definidos. Um grande grupo de pessoas é dividido em subgrupos de 3 a 8 pessoas para discutir o problema em um curto espaço de tempo, para estimular o pensamento rápido e intenso. Cada subgrupo deve eleger um mediador para conduzir a discussão e registrar as ideias.
Após isso, os subgrupos são reunidos e os mediadores relatam as ideias. Novamente os subgrupos se distribuem (pode ser com diferentes pessoas) e discutem novas ideias com base nas do grupo. Esse processo é repetido até que seja encontrada uma ou mais soluções concretas para o problema
Ferramentas
Os quadros da Conceptboard são ótimos para quem deseja organizar as ideias, pois suas funcionalidades permitem aos usuários que incluam e associem diferentes referências. Eles também permitem criar novos conceitos e fazer observações.
Criado pelo publicitário Alex Osborn, o Brainstorm é uma ferramenta em si mesma e simples: trata-se de um encontro para debate de ideias para solucionar um problema. É uma ferramenta extremamente adaptável a novas regras e por isso ficou popular em todo o mundo. O básico é que cada participante tenha ideias durante um tempo pré-determinado e as apresente para o grupo.
Já o software MindMeister automatizou a metodologia dos mapas mentais de forma intuitiva e colaborativa. Serve não só para gerir informações de um projeto como também para planejar as atividades de uma equipe.
Muito parecida com outras ferramentas, a Mural é uma plataforma online, colaborativa e intuitiva em que cada colaborador pode incluir ideias e referências e a equipe pode organizá-las para resolver um problema.