O número de pessoas cuja principal fonte de renda são os serviços de transporte por aplicativo aumentou 137,6% entre 2012 e 2020 no Brasil. Olhe para suas relações: quem não conhece alguém com ensino superior que perdeu o emprego, não conseguiu se recolocar no mercado e agora trabalha como motorista para pagar as contas?
A crescente taxa de desemprego não só no Brasil, mas no mundo todo, tem frustrado os planos de carreira de muita gente. Afinal, sem oportunidades na área escolhida, as alternativas são empreender um projeto próprio ou trabalhar em outro setor. Por fatores culturais e socioeconômicos, a maioria da população brasileira acaba tendo que optar pela segunda opção.
De acordo com relatório, quase metade de todos os empregos de hoje acabarão ou se transformarão radicalmente nas próximas duas décadas devido à automação. Mas um fracasso na carreira não acontece apenas por falta de oportunidades, como também por comportamentos adotados pelo próprio profissional. No entanto, o que mais importa não é o que acontece: é como se lida com o que acontece.
A maioria de nós já viveu pequenos contratempos no trabalho. Mas como se recuperar quando ele é tão grande que faz perder o emprego ou atrapalhar completamente a carreira? Um perfil bem atualizado no LinkedIn só o levará até onde você chegou. As mudanças que devem ser feitas e as realidades que precisam ser aceitas são muito mais profundas.
Dê tempo ao (seu) tempo
Se não houver urgência em manter o mesmo nível de renda que anteriormente, reserve um período para distensionar, refletir e organizar os pensamentos. Se houver essa necessidade, busque incluir pequenos momentos de relaxamento no dia a dia. Isso não é perda de tempo, mas um investimento na sua saúde mental e consequentemente na sua própria trajetória profissional. Não subestime ou reprima a sua dor após uma série de frustrações na carreira.
Uma pausa pode ser a base para entender se o próximo passo será mais curto – um reposicionamento dentro da mesma área de atuação – ou mais longo – uma transição de carreira. Ela também contribui com o desenvolvimento da inteligência emocional, que será essencial para as próximas decisões. Alguns poucos passos para trás podem significar um grande salto para frente.
Dê uma chance aos seus desejos
“Ex-executivo de uma das maiores empresas do mundo larga tudo e prepara refúgio em ilha”. “Economista abandona carreira de sucesso para viver de forma simples”. Dificilmente você se encaixaria nessas situações, apesar de certamente já ter lido uma dessas histórias inspiradoras. Certo? De fato, a maioria dos profissionais que lidam com uma grande frustração na carreira não tem condições para deixar o que fazem de repente.
Ainda assim, vale a pena relembrar os sonhos que tinha quando era criança ou adolescente sobre o que seria “quando crescer”. Não precisa colocar o foco exatamente na profissão desejada, mas refletir sobre o que a fez escolhê-la. Qual é o talento que você cultivou quando era mais jovem e não buscou por uma série de razões? Agora pode ser a hora de arriscar lapidá-lo.
Pode ser cantar ou ler, por exemplo. Faça uma lista de contatos pessoais e de empresas e organizações que têm essas atividades como essenciais, construa relações, procure por um curso ou peça uma oportunidade. Pode ser algo simples inicialmente, como a participação em um coral para teaser promocional ou a revisão de matérias jornalísticas. O importante é entender como o seu talento – ainda que iniciante – pode se tornar interessante em termos de negócio.
Não ignore suas frustrações e dores
Um “siga em frente” não é o remédio que basta para todos que passam por um verdadeiro fracasso profissional. O ditado “o que não mata fortalece” é válido até a segunda página. Os contratempos e perdas, seja na carreira ou na vida pessoal, não devem e nem podem ser ignorados. Aceitar as dores e frustrações é aceitar a possibilidade de aprender com elas. Portanto, não se pressione a estar e parecer bem o tempo todo: reprimir as emoções é impossível e indesejável.
Carregue com você toda a experiência vivida, ou seja, as perdas dolorosas junto com as esperanças para o futuro. A resiliência é uma habilidade que ajuda muito nesse contexto, pois não só não ignora os contratempos como dá um novo valor a eles. Ser resiliente não significa superar o trauma, significa seguir em frente com ele.
Compartilhe a sua história com os outros
Você não é o que acontece com você, mas o que você faz – e aprende – com o que acontece com você. A sabedoria e as perspectivas adquiridas com sua experiência são um presente para si e também para os outros. Ao compartilhar sua história com as pessoas, você provavelmente vai descobrir que algumas se identificam e vai sentir mais segurança.
Experiências traumáticas, intensas e não planejadas em uma carreira não acontecem na trajetória de todas as lideranças, mas foram fundamentais para o crescimento das que as viveram. Oferecer uma escuta compassiva, uma mão firme e sugestões calmas quando seus colegas de trabalho enfrentam suas próprias turbulências é o tipo de liderança que você aprendeu – e que pode conquistar.