A psicóloga Michelle Martins tem quase 20 anos de atuação na área de recursos humanos. Ela trabalha com o propósito de desenvolver ambientes de trabalho ganha-ganha, ou seja, quando os resultados de negócio coincidem com o desenvolvimento profissional e pessoal dos colaboradores da empresa.
Ela já passou por diversos tipos de organização: desde uma fábrica até grandes empresas. Mas foi pelo mercado de tecnologia e inovação e suas “estruturas vivas, adaptativas e velozes” que ela se apaixonou. Hoje está na Neoway, uma empresa de Big Data, Analytics e Inteligência Artificial, onde lidera o time de Gente e Gestão.
Michelle foi a primeira convidada da série de lives da Global Talent Headquarters com profissionais de recrutamento e seleção. Na ocasião, ela compartilhou algumas dicas para quem está começando um novo trabalho (link), sobretudo agora em tempos de Home Office, quando alguns processos parecem mais difíceis.
Integração com a equipe à distância
“É bem desafiador. Eu gosto de falar desse tema, porque eu fiz um onboarding digital. Estou há pouco mais de um ano na Neoway e cheguei já em época de pandemia, em que estavam todos por trabalho remoto. Foi um desafio que eu enfrentei na pele. De lá pra cá, isso já virou rotina, quando comecei falava sobre isso como se fosse uma grande novidade. Todo mundo que fez algum movimento de carreira no último ano passou por isso.
Tem dicas importantes tanto para o ambiente físico quanto para o virtual: ao chegar em uma empresa e conhecer seu time e a liderança, comece a entender desse negócio. Como que a empresa funciona, qual o modelo de negócio, quais os objetivos, qual é o mercado em que ela está? Muitos profissionais transitam em mercados diferentes e ao mudar de empresa precisam se adaptar, saber como é o funcionamento do negócio.
Essa busca por estabelecer relacionamentos tem que acontecer em qualquer ambiente. A diferença do virtual é que a gente passa a precisar ser muito mais intencional. No ambiente físico, você sentaria ao lado dos seus colegas e vocês sairiam para almoçar ou tomariam um café juntos. No ambiente virtual isso não existe. Se você não provoca intencionalmente as interações para além das pautas de trabalho, elas não vão acontecer.
A empresa precisa pensar e se preparar para isso, e propor um ambiente de onboarding e integração, que realmente abrace essa pessoa que está chegando e faça ela se sentir bem recebida e acolhida com a quantidade de informações necessárias. Mas quem está chegando precisa ser proativo também. Comece a pensar em pessoas para ter uma conversa para além da sua equipe.
A maioria das equipes têm reuniões semanais ou diárias (dailys), então a interação vai acabar acontecendo. Mas com quem não vai acabar acontecendo organicamente, é importante mapear as interfaces principais e propor uma aproximação. Por exemplo, marque uma conversa de 30 a 40 minutos e se apresente. Você que está chegando, terá que ter um esforço extra. Esteja consciente e busque ativamente estabelecer relações.
A gente usa o Slack na Neoway como ferramenta de troca de mensagens instantâneas e brinca que são como corredores virtuais. Qual é a ferramenta que a sua empresa usa para troca de mensagens instantâneas? Que tal "pingar alguém", dar um "ping"? As empresas têm a responsabilidade de criar esses espaços, mas se não for proposto pela empresa, você pode propor”.
Fortalecimento do relacionamento interpessoal
“Primeiro observe a cultura da empresa: como se dão as relações? Quais são os espaços de relacionamento? Acompanhe a agenda corporativa, algumas empresas propõem Happy Hour e Town Hall como diferentes momentos de reunião dos colaboradores. Depende do tipo de empresa, se tiver uma cultura super aberta, entre na ferramenta de troca de mensagens instantâneas e chame o CEO ou outras lideranças e bote sua cara na vitrine.
A gente que está do lado da liderança costuma estar com a cara na vitrine sempre, as pessoas nos conhecem. Mas quando a gente vê aquela telinha cheia de rostos, sobretudo em grandes empresas, não consegue identificar todo mundo. Portanto, é importante fazer o movimento inverso também, do colaborador se apresentar e fazer visível para as lideranças. Tem empresas que são mais formais, em que isso não é tão corriqueiro.
Mas em ambientes onde se observou que essa interação é possível, chame no Slack, marque um café virtual, proponha um bate-papo com as interfaces. É importante construir relacionamento. Afinal, o profissional está na empresa também para se desenvolver, não só para entregar seu trabalho. Ele tem sua própria trajetória de carreira, seus próprios objetivos e ambições, suas vontades de aprendizado.
Identifique os pontos em comum com as outras pessoas da empresa: quem são aquelas interessantes com quem você gostaria de trocar uma ideia? Mapeie essas conexões e busque conhecer essas pessoas. Comece pela atividade e necessidade de estabelecer relações com quem você vai ter interface para além do time. Siga para o seu próprio desenvolvimento e carreira, procure alguém a partir de um interesse em comum.
Abordar quem já está há mais tempo na empresa pode ajudar nesse mapeamento e abrir essas possibilidades. É importante experimentar, testar possibilidades e manter a curiosidade acesa, além de ficar atento às interações e observar como os colaboradores se relacionam. Toda empresa tem espaços de troca para além do trabalho, como por exemplo o grupo do poker”.
Conhecer e entender as expectativas antes de superá-las
“O profissional primeiro tem que entender qual é a expectativa atual. Na Neoway a gente fala de jornada de carreira e deixa claro desde o início que o profissional é o protagonista da sua carreira. Para começar, entenda onde você está, faça acordos sobre as expectativas de entrega. O que é critério de sucesso para daqui a três meses ter a certeza de que a parceria está funcionando?
Saber qual a expectativa no momento atual e alinhar tudo isso com o líder é super importante. Afinal, a liderança é a pessoa que está demandando e que vai dar o feedback sobre o trabalho, se está atendendo ou não as expectativas. E se a conversa não veio do líder, é válido provocá-la. A partir disso, você vai perceber o que é extra, o que é ir além, tanto na posição atual quanto durante o seu desenvolvimento.
Tem muita gente que entra na empresa e três minutos depois já está perguntando o que precisa fazer para ser promovido. Primeiro se preocupe em fazer muito bem feito o que você está fazendo porque o resto naturalmente vai aparecer. Não é o contrário, não é pedir a promoção que vai te fazer ser promovido. É mostrar que tem condições de entregar muito mais. Focar no presente é a melhor dica que posso dar”.